segunda-feira, 2 de dezembro de 2019

Conversas


Hoje segunda-feira tive aula somente pela manhã, como tinha que comprar areia para os gatos da escola eu iria passar na loja que sempre comprar a areia dos gatos. Fui procurar minha amiga para almoçarmos, mas ela teve que sair logo para resolver algum problema. Fiquei meio sem saber o que fazer, não estava com fome ainda então decidir sentar no banco que fica no corredor da escola e esperar um pouco. Cumprimentei alguns alunos, mas um especificamente sentou ao meu lado o P.L. PL é um rapaz com cerca de 1,80, cabelos e olhos pretos, pele morena. A primeira vez que o vi em sala de aula temi que fosse um daqueles alunos que atrapalhassem a aula, mas desde o primeiro dia ele era prestativo, sempre pedia para ler os textos que eu pedia e ficava bastante atento. Algumas vezes já havia falado comigo, pedindo desculpas por algo que ele tenha feito.
Hoje, ao sentar do meu lado, perguntei se ele havia almoçado, me respondeu que não apenas tinha ido comer uma laranja na cantina, pois estava com fome. Eu respondi que não comia laranja há vários anos devido a minha restrição alimentar para evitar dores provocadas pela gastrite. Perguntei com quem ele morava, e me respondeu que morava com a mãe, que na verdade era sua avó. Sua mãe era displicente com ele e sua avó decidiu criá-lo, o pai nunca tinha visto, seu verdadeiro pai era seu avô que o levava desde cedo para vender mercadorias em feiras. PL mencionou que desde criança teve que aprender a se virar sozinho, aprendeu a não esperar presentes de aniversário, pois sua avó não tinha condições para isso. Ele não sabe como sua avó conseguia manter ele e mais dois irmãos pequenos somente com o dinheiro do bolsa família.
Outra pessoa com quem falei foi com o A, um jovem alto, com de pele branca, sempre sorridente deixando em evidência os dentes desalinhados mas com aparelho ortodôntico a mostra. Encontrei com ele na parada de ônibus, estava esperando por suas colegas para realizar uma atividade em conjunto. Confesso que por bastante tempo não gostava muito de conversar com o A, ele sempre me recebia com piadas chatas, querendo ser engraçado com o seu jeito abobalhado. Hoje pude compreender melhor a origem desse seu jeito. Também perguntei se ele havia almoçado, respondeu que sim e seu pai havia levado arroz para ele comer, de acordo com A, seu pai era flanelinha e trabalha na esquina da escola. Respondi para ele que meu pai também trabalha exposto ao sol todo dia, não como flanelinha, mas como vendedor ambulante. Meu pai é do tipo que sempre busca fazer piada com algo, o que me lembra o jeito do A. que provavelmente adquiriu esse jeito com seu pai.

sexta-feira, 24 de março de 2017

CRISE NO BRASIL

A crise pela qual o Brasil passa atualmente, inicia-se com a união entre as elites brasileiras no fim de 2012, formadas por grandes corporações e pelo sistema financeiro. Para esta elite o PT não tem mais serventia para eles no governo, assim como não é algo benéfico a volta de Lula em 2018 – a não ser que sua candidatura estabeleça um acordo com essa elite.
Mas diante de como se deu o impeachment da presidenta Dilma em 2016, essa elite aparenta não querer negociações, pois o que elas querem é o controle da política econômica brasileira. Com a crise internacional o governo Dilma adotou medidas para enfrentá-la, o que desagradou esse bloco de elites. Entre essas ações destaca-se a redução da taxa Selic em 2012; a redução da taxa de juros ao consumidor, para que os bancos públicos tivessem o mesmo espaço no mercado que os bancos privados; a permanência dos mesmos preços no setor elétrico, que levou a perda dos fundos internacionais que tem ações nesse campo. Essa série de ações desagradou esse bloco de elites há vários anos comandava a política econômica brasileira.
Mas o debate econômicos é complicado e para derrubar o governo do PT foi necessário atacar por uma via moral na qual o PT é mais frágil, durante todo os governos do PT as denúncias de corrupção foram seu ponto de fragilidade. Em 2015, a corrupção foi utilizada como principal arma para gerar indignação popular contra o governo, para potencializar essas denúncias o agravamento da crise econômica tornaram o governo um alvo fácil.
Para que fechasse o cerco contra o PT, esse processo contou com o apoio do Congresso, do Judiciário e da Política Federal. Dessa forma, a elite, juntamente com os partidos de oposição articularam manifestações contrárias ao governo, contando com o apoio da mídia para fazer essa divulgação. Pelo lado dos apoiadores do governo, manifestações também foram convocadas, embora com menor repercussão da grande mídia.
Essa busca pela desestabilização do governo parece que teria como resposta um ataque mais feroz do governo, mas pelo contrário, o governo Dilma buscou até o último momento manter o acordo que tinha com seu grande aliado, o PMDB, assim como demonstrar para as elites que estava disposto a fazer reformas necessárias para agradar as elites. Essa estratégia na surtiu efeito, pois pode-se inferir pelo desenvolvimento do impeachment, que as elites preferiram um governo liderado pelo PMDB que não negociasse com as outras classes a medidas que lhes interessava.








 
Esse texto tem como referência principal o artigo A disputa é nas ruas, de Silvio Caccia Bava, publicado no Le Monde Diplomatique Brasil em Março de 2016.




domingo, 5 de fevereiro de 2017

Há um periquito que desde criança acompanhava sua vida na gaiola. Primeiro chegou ele é outro, suponhamos que era um macho e uma fêmea. Ficavam em uma gaiola, ao contrário de outros não passeavam pela casa, estavam sempre preparados para uma bicada certeira. O barulho era certo, principalmente se algum animal desconhecido aparecesse desde gatos no muro, cachorros na rua ou gaviões.  Um dia uma gata que tínhamos desejosa pelos periquitos pulou em cima da gaiola, derrunando-a a gaiola se abriu e um deles saiu voando. Desde então o outro periquito passou a viver mais solitário, mas sempre enérgico, fazia parte da família com seu barulho característico, há alguns dias percebi que ela dormia demais, não estava tão atento aos sons ao seu lado, percebi que algo não estava correto. Talvez alguma doença passageira? Tristeza por estar só? Falta de sol? Passados alguns dias (hoje) encontro ele mais fraquinho sempre com os olhos fechados como se estivesse com bastante sono, já não bicava ao aproximar-me dá gaiola. Lá estava o coitado com o bico sujo de maçã, a respiração profunda com dificuldade logo se percebia, o anúncio do fim ali estava frente a mim. Difícil perceber que algo que esteve presente na sua vida desde a infância esteja prestes a acabar, a ilusão de eternidade dá vida, dá eterna continuidade daquilo que está presente em nossas vidas surge, mostrando como nossa vida é feita de fragmentos frágeis, passageiros, limitados. A gente até sabe de tudo isso, mas levar isso pró seu cotidiano é complicado.

quarta-feira, 2 de novembro de 2016

Digo o que os outros tem que fazer, mas eu me engajo?

Não é tranquilo se sentir instigado com algo de nosso interesse, às vezes você passa horas pensando e refletindo, às vezes isso consome noites mal dormidas, angústias que demoram dias, anos ou quando reencontra com amigos. Mas e quando estamos engajados naquilo que criticamos isso muda? Talvez piore em alguns aspectos, mas olhando pelo lado de quem está engajado e é criticado outros elementos surgem. A dinâmica interna de cada organização possui particularidades que muitas vezes o crítico que está pelo lado de fora não vê. Não que a crítica feita por quem está do lado de fora seja sempre algo negativo, muitas vezes contribui pode ser dolorosa, mas ajuda a pensar. O problema está muitas vezes quando essa crítica vem acompanhada de outras críticas confortáveis para quem a faz porque não se compromete em mudar aquilo que critica e sem perceber os limites daquilo que critica.

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2016

A falta de inteligência na Comunidade Católica Shalom

Observando rapidamente um blog da comunidade católica Shalom observo vários equívocos propagados por seus gurus. Uma notícia que reclama do sincretismo religioso realizado nos desfiles de carnaval, comete o erro mais básico o de essencializar o que é histórico. Não pureza em nenhuma cultura e menos ainda em nenhuma religião, qualquer religião parte de vários elementos para construir e reconstruir sua identidade. Na igreja Católica há vários casos como o natal, o rito litúrgico e etc, Nenhuma dessa expressões surgem na palestina na época de Jesus, mas está presente em nossa cultura cristã. O autor do blog promove um relativismo parcial que envolve apenas o que lhe interessa.

terça-feira, 29 de setembro de 2015

Meu nome é Jonas moro em Fortaleza e foi aqui que tive minha experiência com a PJMP. Como muitos iniciei nessa pastoral a partir de um grupo de base, na época tinha 13 para 14 anos. O que mais me atraia estar naquele espaço era poder conhecer outras pessoas, partilhar angustias e pensamentos com pessoas que vivem a mesma realidade que você, não há como negar que tal ambiente também é propício para paixões, não posso negar que esse era um elemento que estava presente naquele momento.
Mas o que vem a minha mente quando lembro dessa experiência de grupo de base é a maneira como ela modificou meu modo de ver o mundo. Um dos elementos que mais contribuiu para isso foi o conflito. Imagine cerca de vinte jovens com uma faixa etária que variava dos doze até os dezenove convivendo toda semana, tendo a oportunidade que muitas vezes não dispunha em casa que era de ser ouvido, mas também de ouvir podendo concordar ou discordar de outra opinião. E com discussões em relação a temas que variavam desde a vida pessoal de alguém do grupo até questões sobre política brasileira.
Essa foi para mim a primeira mudança, perceber como que os relacionamentos humanos não são feitos apenas de cordialidade, simpatia e alegria, como muitas vezes reagimos por pura convenção social. Então pude aprender a lidar um pouco mais com o conflito e a aceitar visões diferentes sobre a realidade. Para mim aquele grupo era o máximo e não entendia como outras pessoas logo saíam, ou outras que nem se interessavam, demorei um pouco para perceber que cada ser humano possui determinados projetos, que não estão escritos em suas testas, mas guardados em suas cabeças ou no peito. Logo, passei a não me preocupar tanto com aqueles que iam embora, aqueles com os quais em tinha uma grande afinidade continuei a ter um bom relacionamento com eles, não precisavam estar no grupo que eu tanto valorizavam, isso porque não queriam gastar energia debatendo temas que não lhes interessava, ou tentado realizar atividades para chamar a atenção de outros jovens do bairro.
Com alguns anos de grupos de jovens pude ter uma outra mudança na minha forma de ver o mundo que já tinha sido iniciada, mas que levou um certo tempo para que eu pudesse ter maior noção do que se tratava e penso que continuo a tentar entender. Tal mudança foi a adesão ao projeto do cristianismo libertador por meio da PJMP. Algumas coisas fui conhecendo já no grupo de base como o respeito a outras religiões, o protagonismo juvenil e o respeito a diversidade sexual. Temas que pude vivenciar de fato anos depois, isso por conta que o ambiente da pastoral era mais um ambiente de debate e não necessariamente de práticas como a visita a outros templos religiosos, ou o contato com militantes da diversidade sexual, mas foram elementos que formaram minhas bases para o que viria depois.

Assim que junto com outros jovens assumimos a coordenação da pastoral em nossa área e posteriormente em Fortaleza pude perceber, agora um pouco mais maduro, que aquilo que eu fazia não era pura diversão, era um ambiente agradável para mim, mas se tratava de um trabalho, de um investimento, eu demandava de vários recursos para poder fazer com que a pastoral acontecesse. Acho que isso é algo que precisamos estar atentos pois cada pessoa reage de uma forma diferente frente aquilo que a pastoral demanda de você em relação a tempo e energia gasta. Vejo que algumas pessoas se dedicam inteiramente a pastoral e seguem suas vidas trabalhando em pastorais, ONGs, partidos e outras experiências que aproximam trabalho e militância. Mas para outras pessoas a pastoral é um ambiente e a expectativa acerca de seu futuro emprego é outra e que muitas vezes tal emprego acaba afastando a pessoa de algumas atividades pastoral. A oportunidade de estar em um curso em uma universidade também é algo parecido, alguns militantes não cursam universidade sejam por não se interessarem pelo saber acadêmico seja por não terem conseguido uma vaga nas seleções, mas outros conseguem entram em universidades e se dedicam aos estudos. Alguns na pastoral estabelecem a sério a hierarquia em sua vida colocando em primeiro lugar a vida militante e as outras em seguida, mas isso não deve ser algo a ser imposto aos demais, por conta dos projeto de vida serem diferentes. Já vi pessoas maravilhosas, ótimos articuladores, coordenadores que depois uma longa caminhada se frustraram por conta da extrema dedicação a vida pastoral e tiveram que deixar de lado oportunidades de emprego, de curso superior e até mesmo de relacionamentos amorosos.   

sábado, 20 de junho de 2015

O que será isso que pressiona meu peito? Saio com meu coração espremido, sinto minhas mãos frias, sinto medo, um nó na garganta. Encontro outras pessoas e começo a mudar, me sinto feliz, no começo fico com o pé atrás mas depois vejo o quanto é bom ter alguém pra partilhar. Do que adianta ter milhares de “amigos”, saber o que fazem por eles mesmos, mas ao mesmo tempo nada dizer. Parece que agora temos a capacidade de fazer tanta coisa que o básico fica de lado.O que será isso que pressiona meu peito? Saio com meu coração espremido, sinto minhas mãos frias, sinto medo, um nó na garganta. Encontro outras pessoas e começo a mudar, me sinto feliz, no começo fico com o pé atrás mas depois vejo o quanto é bom ter alguém pra partilhar. Do que adianta ter milhares de “amigos”, saber o que fazem por eles mesmos, mas ao mesmo tempo nada dizer. Parece que agora temos a capacidade de fazer tanta coisa que o básico fica de lado.