Hoje
segunda-feira tive aula somente pela manhã, como tinha que comprar
areia para os gatos da escola eu iria passar na loja que sempre
comprar a areia dos gatos. Fui procurar minha amiga para almoçarmos,
mas ela teve que sair logo para resolver algum problema. Fiquei meio
sem saber o que fazer, não estava com fome ainda então decidir
sentar no banco que fica no corredor da escola e esperar um pouco.
Cumprimentei alguns alunos, mas um especificamente sentou ao meu lado
o P.L. PL é um rapaz com cerca de 1,80, cabelos e olhos pretos, pele
morena. A primeira vez que o vi em sala de aula temi que fosse um
daqueles alunos que atrapalhassem a aula, mas desde o primeiro dia
ele era prestativo, sempre pedia para ler os textos que eu pedia e
ficava bastante atento. Algumas vezes já havia falado comigo,
pedindo desculpas por algo que ele tenha feito.
Hoje,
ao sentar do meu lado, perguntei se ele havia almoçado, me respondeu
que não apenas tinha ido comer uma laranja na cantina, pois estava
com fome. Eu respondi que não comia laranja há vários anos devido
a minha restrição alimentar para evitar dores provocadas pela
gastrite. Perguntei com quem ele morava, e me respondeu que morava
com a mãe, que na verdade era sua avó. Sua mãe era displicente com
ele e sua avó decidiu criá-lo, o pai nunca tinha visto, seu
verdadeiro pai era seu avô que o levava desde cedo para vender
mercadorias em feiras. PL mencionou que desde criança teve que
aprender a se virar sozinho, aprendeu a não esperar presentes de
aniversário, pois sua avó não tinha condições para isso. Ele não
sabe como sua avó conseguia manter ele e mais dois irmãos pequenos
somente com o dinheiro do bolsa família.
Outra
pessoa com quem falei foi com o A, um jovem alto, com de pele branca,
sempre sorridente deixando em evidência os dentes desalinhados mas
com aparelho ortodôntico a mostra. Encontrei com ele na parada de
ônibus, estava esperando por suas colegas para realizar uma
atividade em conjunto. Confesso que por bastante tempo não gostava
muito de conversar com o A, ele sempre me recebia com piadas chatas,
querendo ser engraçado com o seu jeito abobalhado. Hoje pude
compreender melhor a origem desse seu jeito. Também perguntei se ele
havia almoçado, respondeu que sim e seu pai havia levado arroz para
ele comer, de acordo com A, seu pai era flanelinha e trabalha na
esquina da escola. Respondi para ele que meu pai também trabalha
exposto ao sol todo dia, não como flanelinha, mas como vendedor
ambulante. Meu pai é do tipo que sempre busca fazer piada com algo,
o que me lembra o jeito do A. que provavelmente adquiriu esse jeito
com seu pai.